segunda-feira, 29 de julho de 2013

PARE E PENSE !!!


O Jovem Cristão e as Mídias Sociais

Helvécio J. Batista Júnior

 




1.      INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o uso das mídias e redes sociais tem aumentado estrondosamente em todo o mundo, principalmente em nosso país. Por exemplo, o “Facebook” possui em torno de 200 milhões de perfis ativos no Brasil, número superior a própria população. No entanto, diante desta “febre” da internet alguns questionamentos precisam ser levantados: Como o jovem cristão utiliza esta ferramenta? A internet é um instrumento que estamos usando dentro de nossa liberdade cristã ou ela já se tornou um “deus” em nossas vidas, da qual somos dependentes e escravos?

 

2.      O BENEFÍCIO DAS MÍDIAS SOCIAIS

Quando tratamos de mídias sociais dentro de um contexto cristão, precisamos concluir que estas são grandes agentes na divulgação da Palavra de Deus e no Testemunho do Evangelho; além disso, as mídias sociais são ótimos “pontos de encontro” onde é possível fazer amizades, trocar informações e até mesmo ajudar outras pessoas de uma forma emergencial e rápida. Saber usar a internet é uma grande arma do cristão no mundo atual, visto que por ela, podemos chegar aonde os nossos pés jamais chegarão. Portanto, com consciência e responsabilidade podemos ter uma ótima ferramenta de entretenimento, comunicação e principalmente testemunho cristão.

 

3.      O PERIGO DAS MÍDIAS SOCIAIS

Assim como contém grandes benefícios para nós, a internet também pode nos aprisionar em seus grandes perigos. Aqui podemos falar do “vício” que pode ocasionar isolamento e em alguns casos até mesmo depressão. Além deste, um grande perigo exclusivo para o cristão é o mau testemunho, principalmente nas redes sociais por meio de postagens ou compartilhamento de frases ou fotos, mesmo que “bonitas” de locais, autores ou fontes que não correspondem com os princípios bíblicos. Ainda existem as famosas “discussões” que podem sair dos trilhos e, ao invés de serem um debate para o crescimento de conhecimentos se tornam baixaria e pura agressão. Por falar em agressão, o uso de vocabulário baixo também é algo que vai de encontro aos ensinamentos bíblicos. Ao usar as mídias sociais precisamos ter em mente que o “mundo” está nos vendo, portanto aquilo que postamos, curtimos e compartilhamos está acessível a todos, e, para muitos, são estes “simples cliques” que constroem nossa imagem.

 

4.      O CUIDADO COM AS MÍDIAS SOCIAIS

Diante dos prós e contras que analisamos até aqui, é preciso também ressaltar que o cuidado ao se usar mídias sociais precisa ser redobrado em tudo; visto que a internet se torna uma grande arma para pessoas más que se aproveitam da ingenuidade de muitos. Além de dar um bom testemunho, precisamos entender que as redes sociais não precisam saber de toda a nossa vida, não precisamos de nos expor completamente ali, visto que este não é o objetivo da mesma. Temos ali uma ferramenta para entretenimento, amizade e testemunho; no entanto, não se esqueçam, por exemplo, que o “facebook”, “instagran” ou “Twitter” não são diários pessoais, muito pelo contrário, são redes públicas e que, como já vimos, pode ser usado tanto para o bem como para o mal.

 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

AS 14 CONSOLAÇÕES DE LUTERO (Parte I)


CATORZE CONSOLAÇÕES

Dr. Martinho Lutero

 
 

Introdução

Em 1519, o Príncipe Frederico, o Sábio, da Saxônia adoeceu gravemente, chegando muitos a pensar que viria a morrer. O capelão da Corte, Espalatino, pede então a Lutero para que redigisse um texto de consolo para o príncipe. Este assim o faz e o envia em 22 de Setembro do mesmo ano.

Frederico, defensor de Lutero e grande admirador de sua obra, ainda se mantinha preso a alguns costumes e doutrinas romanas, como, por exemplo, o amor as relíquias sagradas, das quais se podia ter consolo, cura e até mesmo salvação. Como Lutero então poderia tratar esta situação?

A Igreja da época ensinava que havia 14 santos considerados auxiliares nas mais diversas necessidades: Acácio, Egídio, Bárbara, Blásio, Cristóvão, Ciríaco, Dionísio, Erasmo, Eustáquio, Jorge, Catarina, Margarete, Pantaleão e Vito. Lutero então, sabendo que o príncipe tinha diante de si os 14 santos que protegiam na doença não se atém a imagem ou ao que ela representa, mas sim, apresenta diante de seu senhor, consolações firmadas naquele que é o único e verdadeiro Consolador.

Lutero, com este escrito, mostra que a fuga ilusória do sofrimento para os santos não tem valor; o ser humano tem de se confrontar com a realidade. Assim, Lutero estrutura a sua obra em duas grandes partes com 07 pontos cada: sete males e sete bens. Com os sete males é apresentada a situação do ser humano que somente é limitada pela solidariedade de Cristo, que santifica o sofrimento. Já, os sete bens, são aplicados à situação do ser humano. Por meio da Palavra, lhe são dados paz e companhia de Deus. Mesmo no inferno, Deus castiga e liberta. Através do mal Deus continua a agir.

O Deus que jamais abandona o ser humano e continua junto dele mesmo no sofrimento é a linha vermelha que perpassa todas as 14 Consolações de Martinho Lutero; um texto que nos inspira e nos ensina que não é só possível suportar o sofrimento, mas também amá-lo![1]

 

Ao Ilustríssimo Príncipe e Senhor Frederico

            Jesus Cristo nos legou: “Devemos prestar obras de misericórdia ao aflitos e as vítimas de calamidades; que visitemos os que estão prostrados em doença; que nos esforcemos pela liberdade e prestemos ao nosso próximo todo o tipo de serviço pelo qual os males do presente sejam aliviados”. O próprio Jesus é o maior exemplo desse mandamento ao realizar a sua Obra em prol do ser humano.

            Quando o ser humano sofre, ele jamais sofre sozinhos, Cristo sofre junto dele. É a própria voz de Cristo que clama em seus gemidos. O próprio Cristo assim se colocou, ao afirmar: “O que fizestes ao menor dos meus, a mim o fizeste” (Mt 25.40).[2]

 

Prefácio

            Paulo, em Romanos 15.4 nos ensina que toda a consolação deve ser buscada nas Sagradas Escrituras; pois somente as Escrituras nos ensinam e nos agracia com aquilo que precisamos e ainda nos guarda de males que nos afeta e nos protege e cuida diante da dor e do sofrimento.[3]



Continua...
 
Helvécio José Batista Júnior
 
 
 




[1] DREHER. Martin; Introdução as Catorze Consolações de Martinho Lutero. In LUTERO. Martinho; OS Vol. II – O Programa da Reforma, Escritos de 1520. CIL – Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS e Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS. p. 11 – 13. 1989.
[2] LUTERO. Martinho; Saudação ao Príncipe Frederico, Duque da Saxônia, Eleitor do Sacro Império Romano. In LUTERO. Martinho; OS Vol. II – O Programa da Reforma, Escritos de 1520. CIL – Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS e Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS. p. 14 – 15. 1989.
[3] LUTERO. Martinho; Prefácio as Catorze Consolações. In LUTERO. Martinho; OS VOL. II – O Programa da Reforma, Escritos de 1520. CIL – Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS e Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS. p. 16. 1989.

domingo, 14 de julho de 2013

O SACRAMENTO DO ALTAR (Parte X)

Palavras Finais
 
 


Quando se trata da participação na Santa Ceia, uma das primeiras questões que se levanta é se a comunhão pode ser aberta ou não; no entanto, segundo foi destacado neste trabalho, o testemunho da história do cristianismo atesta para uma comunhão mais íntima, como é possível observar nas semelhanças com as refeições do povo hebreu (1.2, pp. 16 – 17); o fato de Jesus ter dado a Ceia somente aos seus discípulos (1.3, p. 18); a preocupação do Apóstolo Paulo (1.4, pp. 20 – 21); os conselhos do Didaqué para não se dar o que é santo aos cães (2.1, p. 25); a atenção dos Pais Apostólicos para que a Ceia não fosse profanada (2.2, pp. 26 – 27); também Justino que ensinava que o Sacramento era somente para aqueles que criam em Cristo verdadeiramente (2.4, p. 31); a preocupação de Lutero com uma participação digna e sua indicação para aqueles que não deveriam participar (3.5, p. 42); também a Fórmula de Concórdia atesta para quem é o Sacramento (3.6, pp. 44 – 46).

Em nenhum momento, como foi visto, esta comunhão mais íntima é atrelada ao sentido de exclusivismo, muito pelo contrário, todos os batizados são convidados a Ceia. No entanto, existe uma preocupação pastoral para que todos possam participar dignamente e assim receber os benefícios que o Santo Sacramento confere aos comungantes.

Não é que uma Congregação Luterana queira banir alguém da comunhão dos santos e das bênçãos da Eucaristia quando pratica a Comunhão Íntima. Não querem de forma alguma ser separatistas ou juízes sobre os homens. A prática da Comunhão íntima é motivada pelo Amor e nasce da convicção, de coração, com base nas Sagradas Escrituras, que devemos seguir o mandamento de Cristo. E isto significa recusar a Ceia para aqueles que não conhecemos a Fé. Não podemos permitir que alguém faça algo prejudicial a si mesmo, mesmo quando acha que pode fazer bem. Também temos de ter a preocupação com aqueles que pertencem a grupos Cristãos que em alguma de suas doutrinas se afasta das Verdades Bíblicas.[1]

 

Comunhão Íntima não é exclusivismo, mas sim, um ato de amor, onde cuidado pastoral para com os participantes da Ceia do Senhor se faz presente no intuito de que o comungante possa ter um bom proveito do Sacramento.
Por este fato Mueller aponta para a ordem de Cristo, de que somente os crentes fossem recebidos na Ceia do Senhor.
A Igreja Cristã não deve praticar comunhão livre, mas privativa, visto que é da vontade de Deus que só os crentes se aproximem da mesa do Senhor (1Co 11. 26 – 28). Enquanto Evangelho deve ser pregado indiferentemente a crentes e incrédulos (Mc 16. 15 – 16), a Santa Ceia se destina somente aos regenerados, conforme comprovam as Palavras da Instituição de Cristo e a praxe normativa dos apóstolos (1Co 10. 16; 11. 12 – 34)[2]
 

Em momento algum se ressalta o fato de que somente membros de determinada igreja são aptos a participar da Ceia, assim, também, fala de uma forma mais ampla sobre este assunto:
Em geral, pode-se afirmar que todos os cristãos batizados que se arrependem de coração dos seus pecados, crêem verdadeiramente em Jesus Cristo, consideram o rito da Santa Comunhão conforme Cristo o instituiu, são receptivos à instrução em cada ponto de doutrina e vida, são capazes para se examinar e tem o propósito de corrigir a sua vida com o auxilio do Espírito Santo, devem ser admitidos à Mesa do Senhor.[3]
 
Desta forma, se entende a preocupação e o cuidado para que a Ceia não seja aberta justamente para que o participante quando comungar não receba a Ceia para a sua condenação, como ensina a Fórmula de Concórdia:
Cremos, ensinamos e confessamos que não só os verdadeiros crentes e os dignos recebem o verdadeiro corpo e verdadeiro sangue de Cristo, mas, também, os indignos e os incrédulos. Todavia, se não se convertem e não se arrependem, recebem-nos não para vida e consolo, mas para juízo e condenação. Pois, ainda que rejeitem a Cristo como Salvador, contudo, têm de admiti-lo, mesmo contra a vontade deles, como severo juiz, o qual é tão presente para, também, exercer e manifestar o juízo relativamente aos convivas impenitentes, como está presente para operar vida e consolo no coração dos crentes verdadeiros e convivas dignos.[4]
 
Assim, quanto à participação no Sacramento, o comungante pode se inspirar nas palavras de Walther:
Quando o Senhor oferece aos comungantes o pão consagrado e diz: ‘Isto é o meu Corpo, que é dado por vós’, fica claro que ele pretende dizer que os homens devem crer, pois, caso contrário, o corpo de Cristo de nada lhes aproveitará. Aquele que confia no fato de que Cristo, sacrificando seu corpo, pagou o preço que o comungante precisava pagar pelos seus pecados, pode retirar-se do altar, pulando e saltando de alegria. Quando o Senhor ao oferecer o cálice, diz: ‘Este Cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós para remissão dos pecados’, ele pretende enfatizar, de modo especial, as palavras ‘ para remissão dos pecados’, além de fazer com que cada comungante, que deposita sua confiança nelas, vibre de alegria em seu íntimo.[5]
 
Portanto, este cuidado com aqueles que se aproximam do Altar do Senhor não é algo recente, como foi visto anteriormente, existe um embasamento bíblico e histórico para a Comunhão Íntima, além disso, Wittenberg traz também um exemplo de como a Igreja Antiga se comportava diante de um novo indivíduo que chegava de outra congregação e queria receber o Sacramento.

A igreja antiga, para conservar puros seus altares, desenvolveu um cuidadoso sistema por meio do qual concedeu aos seus membros que se mudavam um testemunho sobre o que era crido na congregação de origem a fim de tornar possível a estes membros continuarem em congregações da mesma confissão. Desta forma a nenhum estranho foi permitido comungar, salvo quando podia apresentar uma libellum pacis – isto é, a prova de que tem condições para trocar com os confessores duma determinada fé o ósculo da fraternidade, o ósculo da paz no culto da comunhão. [6]
 
Linden ressalta o fato de que não existem visitantes na Ceia do Senhor, mas sim, irmãos de mesma fé:
O uso de Paulo da palavra “corpo” tanto para o elemento visível da Ceia, como para a Igreja, e o vínculo que estabelece entre os dois, em 1 Co 10 e 11, sublinham a relação entre participação na Santa Ceia (comunhão com Cristo) e a comunhão com os irmãos. A rigor, não há visitantes na Santa Ceia. Pode haver, sim, irmãos na mesma fé, oriundos de diferentes locais (como fica claro na situação em que os apóstolos celebram a Ceia com Igrejas locais fora de Jerusalém ou Antioquia). “Visitante”, de fato, é aquele que não pertence à Comunidade confessante. Este não é convidado a participar da Ceia, mas a, antes disso, fazer parte da Comunidade.[7]
 

Assim também Elert fala, em alusão à prática na Igreja Antiga:
Comunhão só é possível com base na fé confessada. Tal confissão do conteúdo da fé era requerido pela igreja antiga de todo membro. E que isto não é uma ficção piedosa fica claro do alto nível e do conteúdo da instrução dada aos catecúmenos. Esta instrução era parte da congregação local, pela qual sua vida era sustentada. Ela não consistia, de forma nenhuma, de simples apropriação de material doutrinário. Em Justino já lemos como os candidatos para o batismo eram testados antes de sua admissão para verificar se o que lhes fora ensinado era assunto de convicção e se eles estavam prontos a demonstrar o que confessaram através de uma maneira de viver correspondente.[8]
 
Com isto, portanto, se tem material consistente e satisfatório para se defender uma comunhão íntima, visto que isto não é exclusão ou negação da Graça de Deus, mas sim, cuidado pastoral, baseado naquilo que o próprio Cristo ensinou, para que todo o que venha a Mesa do Senhor, ali tenha uma participação digna e receba o proveito que ela confere, perdão dos pecados, vida e salvação eterna.

 


De acordo com o que foi tratado neste trabalho se chega ao último tópico do mesmo, com a finalidade de mostrar que este cuidado, esta preocupação, a instrução e o trabalho realizado com aqueles que vêm a Mesa do Senhor é uma tarefa do Ministro, ou seja, o pastor, que é por meio de quem o próprio Deus ministra e serve a Ceia do Senhor.[9]
Com isto, se entende que aquilo que o ministro oferece é dado a todos os participantes indistintamente; mas aquilo que o Espírito Santo confere, a saber, os benefícios do Sacramento, perdão dos pecados, vida e salvação, é recebido somente pela fé; de forma que Lutero atesta que “o Sacramento é administrado e recebido não somente por cristãos piedosos, mas também por cristãos ímpios”.[10]
Desta forma, Strelow[11] argumenta que Lutero vê na confissão particular antes da participação na Santa Ceia “uma oportunidade de consolo para o pecador obter conforto para a consciência”, além disso também, percebe que com esta prática o próprio pastor pode orientar o povo “quanto a melhor preparação e corrigir abusos”.

Por isto o Reformador insiste no fato de que a admissão ao Sacramento pertence a Igreja, pois é a detentora do ofício das chaves e quem administra publicamente por meio dos ministros chamados;[12] isto é, a Igreja, por meio de seus pastores tem esta tarefa diante do Sacramento, para isto então, o cuidado pastoral deve ser ressaltado com a finalidade de que ninguém receba a Ceia sem saber o que está fazendo e assim para o seu próprio juízo.
O próprio Lutero argumenta que a admissão ao Sacramento implica ser batizado, confissão pública de fé e instrução na verdade, o que então requer capacidade de compreensão, além de não ser um herege ou pecador manifesto;[13] sendo que o guia para estes requisitos é o ministro, cabe a ele, em sua congregação cuidar para que todo aquele que se aproxima do Altar do Senhor possa receber o Sacramento para o seu proveito e não para condenação.
Quanto a este cuidado do pastor quanto a admissão ou não do povo a Ceia, Walther declara:

É bom lembrar ao pregador, em relação aos que ele deve e quer admitir à Santa Ceia, que ele não precisa ter certeza de que estes são cristãos com fé viva. Quem poderia saber isso? – Mas, ele (deve estar certo) somente que não seja provável ou óbvio de esta pessoa não ser um cristão. Agora, quanto a admissão ou não admissão à mesa do Senhor, julgar conforme sua convicção moral é um domínio irresponsável sobre as consciências. Mesmo o Senhor (Jesus) que, conforme sua onisciência sabia tudo, sabia que Judas participaria da Santa Ceia para seu juízo, o deixou participar (se é que participou), por o seu pecado ainda não ter sido revelado diante das pessoas. (Ele ainda não foi revelado como um não cristão).[14]
 
Com isto se entende que este cuidado é uma responsabilidade pastoral, no entanto, diante de uma participação indigna do comungante consciente, a responsabilidade é daquele que vai à Mesa do Senhor.
Porque um pastor deve ser um servo fiel de Cristo, ele não deve, até onde isto lhe for possível, atirar o sacramento ante os porcos e cães, mas, antes, descobrir quem são as pessoas. Se elas o enganarem e falarem falsamente, então ele está desculpado. Elas se enganaram a si mesmas.[15]
 

Por isto, também Mentzer destaca:
Um pastor cristão honesto jamais deve agir de tal modo que ofereça e administre o precioso tesouro da Ceia do Senhor àqueles que sobre a mesma não pensam e acreditam de modo correto. Em prova do que digo que eu mesmo tenho esta opinião que na eternidade jamais deva ante Deus ser responsabilizado por ter dado a Santa Ceia do Senhor Jesus Cristo a alguém que zomba das palavras do Senhor Jesus Cristo e deseja dar cabo da minha confissão e doutrina e lutar contra elas.[16]
 
No entanto, o pastor também precisa compreender que ele não é um adivinho e por isso precisa tratar com carinho todo aquele que se aproxima do Altar do Senhor. Pois, seguindo o exemplo de Cristo e Judas (1.3, pp. 18 – 19), Gerhard escreve:
Assim, a exemplo de Cristo, um ministro da Igreja não pode excluir alguém da Santa Ceia cujos pecados ainda estão ocultos, mas deve advertir seriamente os indignos a não participarem indignamente e chamá-los ao arrependimento.[17]

 

Assim, a administração do Santo Sacramento não é algo qualquer, mas uma tarefa importante que deve sempre ser olhada com carinho pela Igreja, visto ser ela, por meio de seus ministros, a responsável pela participação de cada comungante na Ceia do Senhor. Desta forma, o cuidado pastoral deve ir ao encontro a cada um dos participantes para que estes possam participar dignamente e assim, receberem o proveito que o Sacramento do Altar confere.
A Santa Ceia é de Cristo, ele é quem convida, ministra e serve. Mas ele o faz por meio dos ministros chamados e ordenados, para que ali de fato se realize uma comunhão. Comunhão de mesa, comunhão de irmãos, comunhão de fé.
Assim é a Ceia do Senhor, uma Comunhão, no sentido mais simples, concreto e direto que esta palavra tem. 

 

CONCLUSÃO

 

 



Comunhão. Foi a este conceito que a presente pesquisa chegou. E como foi trabalhado anteriormente, comunhão no sentido mais simples e direto que este termo significa. Pois é realmente isso que ocorre no Sacramento do Altar, uma Comunhão dos comungantes com o próprio Deus e todos os santos de todos os tempos da Igreja, além de uma Comunhão entre os próprios participantes.
 Assim, participar de uma Comunhão requer alguns critérios, como por exemplo: o participante precisa saber o que determinado grupo confessa e crê, além disso, precisa concordar com a crença e confissão daquele grupo, e assim, após passar por uma instrução em que irá tirar eventuais dúvidas e esclarecer conceitos que podem ser mais complicados, ele então passa a fazer parte daquela comunhão.

No entanto, o que se vê hoje em dia na Igreja Cristã não é bem assim. A partir dos critérios citados acima se espera que todos os membros da comunhão confessem a mesma coisa e de fato vivam em comunhão como irmãos na fé.
Na pesquisa do Dr. Paulo Pietzsch a respeito da prática da Santa Ceia na Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) na tensão entre a “Teologia Oficial” e a “Teologia Popular”[18] se constatou que os membros da IELB, uma Igreja Luterana de cunho Confessional, não estão “bem preparados” para receber o Sacramento, visto que muitos não compreendem o valor e importância da Santa Ceia e existem aqueles que nem ao menos confessam a presença real de Cristo na Ceia, que é a base de doutrina a respeito do Sacramento do Altar de acordo com o Reformador Martinho Lutero, como foi possível observar, também nesta pesquisa, de forma breve.

De acordo com esta abordagem do Professor Pietzsch se percebe que a Igreja tem muito trabalho para fazer. Começando na instrução de seus próprios membros, visto que, ao defender uma comunhão íntima, como também este trabalho chegou à conclusão de ser a melhor opção de acordo com a história da Igreja e os princípios bíblicos, precisa então zelar por aqueles que na Igreja já congregam.
Wittenberg chama a atenção para este fato ao lembrar que “uma correta confissão a respeito da Ceia do Senhor é um pré-requisito para ser admitido na Eucaristia”.[19] Se os participantes não forem bem instruídos a respeito deste Sacramento a Igreja poderá ter comungantes participando da Mesa do Senhor sem ao menos saber o significa deste ato.
 Por isto, este trabalho rebuscou na Palavra de Deus e na História testemunhos que ajudam a entender o significado da Santa Ceia, o seu valor e importância e o porquê de este Sacramento não ser administrado de forma deliberada e aberta.

O Sacramento é Evangelho, é Deus vindo diretamente ao encontro do seu povo. Desta forma, qualquer pessoa que for à Mesa do Senhor de fato irá receber o Corpo e Sangue de Cristo, no entanto os seus benefícios, perdão dos pecados e fortalecimento da fé, não irão receber, acaso participem da Ceia sem fé. E isto é possível de se entender de uma forma muito simples, por exemplo, alguém que rejeita a Cristo e se mantém convicto a isso não irá receber o perdão de seus pecados, assim como um cristão impenitente que insiste no seu erro e não se arrepende; também aquele que não enxerga Cristo no Sacramento e não crê que ali se recebe o verdadeiro corpo e sangue em, com, e sob o pão o vinho não terá o fortalecimento da fé, visto que ele também rejeitou o próprio objeto da fé, ao rejeitar o Sacramento, Cristo.
O cuidado pastoral é fundamental na administração do Sacramento do Altar, visto que o pastor tem que se esforçar ao máximo para que ninguém participe indignamente da Ceia do Senhor, já que o seu uso indigno acarreta juízo e condenação.

Assim, o pastor não deve trabalhar no intuito de proibir ou negar a alguém a Ceia do Senhor, mas sim de instruir aquele que deseja receber o sacramento para que este indivíduo então, possa de fato receber o Corpo e Sangue de Cristo para o seu proveito, perdão e fortalecimento e não para condenação e juízo.
Por isto, o que precisa ser repensado é o sentido de comunhão, para que de fato possa existir na Igreja a Comunhão dos irmãos na Fé em um mesmo Deus e que vivam uma mesma Confissão de sua Fé.
Afinal, a Santa Ceia é o momento onde os comungantes estão em Comunhão com o próprio Deus, os anjos e arcanjos, e com toda a Santa Igreja Cristã de todos os tempos.
Portanto, a Ceia não pode ser uma quebra de comunhão, ou uma mistura de crenças diferentes, mas sim comunhão em tudo.

Este trabalho, então, propõe que Igrejas e Pastores concedam uma atenção constante a este Sacramento. Assim também, respeitá-lo e de fato, trabalhar para que todos que se aproximam do Altar, possam participar tranquilamente da Ceia do Senhor na certeza de que ali se está recebendo por meio do corpo e sangue de Cristo o fortalecimento da Fé e o perdão dos pecados. Com isso, terão uma participação digna, alimentando o sentido verdadeiro de Comunhão, com Cristo e com os irmãos na Fé, na certeza de que a Santa Ceia é Evangelho, é o próprio Deus presente em carne e sangue. Por isso o Apóstolo Paulo lembra que “todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha”.[20]
O Sacramento do Altar é Evangelho e é exatamente isto que o próprio Deus quer que ele seja na vida daqueles que participam da Ceia do Senhor.
 
Fim...
Helvécio José Batista Júnior
Grande abraço a todos
Bênçãos de Deus
 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



[1] DEFFNER, Donald. “Why Close Communion?”. Berkeley, Califórnia. 1955. p. 14
[2] MUELLER. p. 502.
[3] MUELLER. p. 503 – 504.
[4] LIVRO DE CONCÓRDIA – As Confissões da Igreja Evangélica Luterana, 1580; Fórmula de Concórdia, 1577. p. 521.
[5] WALTHER. p. 325.
[6] WITTENBERG. p. 04.
[7] LINDEN, Gerson L. Aspectos quanto a administração da Santa Ceia. In Revista Igreja Luterana. 2001/1. Vol. 60. Seminário Concórdia, São Leopoldo, RS. p. 06.
[8] ELERT, Werner. Eucharist and Church Fellowship in the First Four Centuries, Traduzido por Norman E. Nagel, St. Louis, Concordia, 1966, p. 71. “Fellowship is possible only on the basis of the confessed faith. Such confession of the formulated content of faith was required by the early church of every full member. That this was no pious fiction is plain from the high level and the content of the careful instruction given to catechumens. This instruction was part of the activity of the local congregation by which its life was sustained. It by no means consisted of mere mental appropriation of doctrinal material. In Justin already we read how the candidates for Baptism were tested before admission as to whether what was taught them was a matter of conviction and whether they were ready to demonstrate what they confessed in a corresponding manner of life” (Tradução de Gérson L. Linden).
[9] STRELOW, Luisivan V. Lei e Evangelho na Santa Ceia. In Comunhão e Separação no Altar do Senhor. 2º Simpósio Internacional de Lutero. Organizador: Paulo W. Buss. Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS. 2009. p. 85.
[10] LIVRO DE CONCÓRDIA – As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. 1580. Artigos de Esmalcalde, de Martinho Lutero, 1537. p. 333.
[11] STRELOW, Luisivan V. Lei e Evangelho na Santa Ceia. In Comunhão e Separação no Altar do Senhor. 2º Simpósio Internacional de Lutero. Organizador: Paulo W. Buss. Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS. 2009. p. 86.
[12] LUTERO, Martinho. Do cativeiro Babilônico da Igreja, 1520. In Obras Selecionadas. Vol. II. 1989. Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS. Ed. Sinodal, São Leopoldo, RS. p. 370.
[13] LUTERO, Martinho. Do Cativeiro Babilônico da Igreja. In. Obras Selecionadas. Vol II. p. 274 – 275.
[14] WALTHER, Carl F. W. Teologia Pastoral. Traduzido por Horst Kuchenbecker. 2011. p. 110.
[15] LUTERO, Martinho. Apud. WITTENBERG. p. 11.
[16] MENTZER, Balhazar. Apud. WITTENBERG. p. 13.
[17] GERHARD. In WALTHER. Teologia Pastoral. p. 110.
[18] PIETZSCH. Paulo G. A Prática da Santa Ceia na Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) na Tensão entre a “Teologia Oficial” e a “Teologia Popular” – Comparação, Interpretação e Consequências à Luz das Origens do Culto Cristão. Escola Superior de Teologia – Instituto Ecumênico de Pós – Graduação em Teologia. São Leopoldo, RS. 2008.
[19] WITTENBERG. p. 09.
[20] 1Corintios 11.26.