sexta-feira, 7 de junho de 2013

O SACRAMENTO DO ALTAR (Parte I)


A PARTICIPAÇÃO NA CEIA DO SENHOR[1]

 
 

Introdução:

A Santa Ceia é Evangelho.[2] Esta é a grande ênfase de Sasse quanto à doutrina do Sacramento do Altar na teologia de Martinho Lutero. Segundo ele, esta foi a maior descoberta do Reformador a respeito deste Sacramento. Neste sentido, a Igreja de Cristo é desafiada a olhar para a Ceia do Senhor de fato, como Evangelho, um Dom de Deus ao seu povo, ou seja, algo de Deus para a Igreja, onde o próprio Cristo convida, ministra e concede o seu corpo e sangue em, com e sob o pão e o vinho, por meio da Igreja.

A Ceia é o alimento da fé, que a fortalece e concede o perdão dos pecados àqueles que nela participam; no entanto, alguns princípios devem ser levados em consideração quando se dirige à Mesa do Senhor, visto que o próprio apóstolo Paulo argumenta que o participante precisa se examinar e saber discernir o corpo de Cristo para que a Ceia não venha a ser para seu juízo.[3]

Santa Ceia é Evangelho. Santa Ceia é Comunhão. Logo, na Santa Ceia se tem a Comunhão daqueles que crêem e confessam o Evangelho, Cristo, o Senhor.

 

Tipologias:

            Quando se estuda a respeito do Sacramento do Altar se percebe em sua estrutura algumas semelhanças com ritos e/ou eventos descritos no Antigo Testamento. Estudiosos e também alguns Pais da Igreja destacam esses eventos como sendo uma “tipologia” da Santa Ceia, como acontece também a respeito de Cristo e os “tipos de Cristo” no Antigo Testamento.

Sobre a Santa Ceia, pelo menos três eventos são motivos de estudo quanto a esta forma de se observar o texto bíblico. O episódio em que Melquisedeque recebe Abrão e lhe traz pão e vinho; a instituição da páscoa; e, o maná no deserto.

O episódio em que Melquisedeque abençoa a Abrão se encontra em Gênesis 14[4], a respeito do qual Santo Ambrósio destaca:

Em teu favor, no entanto, a figura deste Sacramento veio antes, a saber, no tempo do próprio Abraão, na hora em que ele reuniu os 318 servidores e se foi, perseguindo os adversários e arrancando o sobrinho do cativeiro. Voltou, então, vitorioso. Correu-lhe ao encontro o sacerdote Melquisedeque e ofereceu pão e vinho (Gn 14. 14-18). Foi ele, portanto o autor do Sacramento... Melquisedeque ofereceu, pois, pão e vinho. Quem é Melquisedeque? Sem pai, dizem, sem mãe, sem genealogia, sem começo dos dias nem fim de vida, semelhante ao Filho de Deus[5].

 

Desta forma, temos Melquisedeque, um “tipo de Cristo”, realizando um momento que pode ser visto como um “tipo de Santa Ceia”, como por exemplo, Santo Ambrósio o enxergou. Aqui não se deve ater ao mérito da exegese no sentido de se Melquisedeque é ou não o autor do Sacramento, mas unicamente no fato de se perceber as semelhanças neste relato de Gênesis com a Ceia dos cristãos, onde ele toma pão e vinho, os dá a Abrão, o abençoa e profere uma ação de graças, algo que se assemelha bastante com a prática da Igreja Primitiva quanto ao Sacramento da Ceia do Senhor, instituído por Cristo.

O segundo evento visto como um tipo da Ceia é a instituição da Páscoa, que se encontra em Êxodo 12[6], onde há o marco concreto do início do culto em Israel de uma forma mais organizada.

Alfred Edersheim, em seu estudo, destaca o aspecto do Cordeiro Pascal e o próprio Jesus Cristo como sendo agora O Cordeiro para sempre, onde Ele participa de sua própria Ceia apontando para o seu sacrifício pelos pecados do mundo[7], assim como o povo de Israel foi salvo por meio do sangue nos umbrais da porta em meio à promessa de Deus, agora também o povo de Deus foi salvo por meio do sangue de Cristo derramado na cruz.

Dessa forma, Edersheim atesta:

Assim como na Ceia Pascal todo o Israel se reuniu em torno do Cordeiro Pascal em comemoração pelo que se passou, em celebração pelo presente, e em antecipação do futuro, e ainda, na comunhão no Cordeiro, a Igreja faz o mesmo em torno de Cristo, o cumprimento do Reino de Deus.[8]

 

A Festa da Páscoa no Antigo Testamento comemorava a libertação do povo do Egito, mas também, era “uma ocasião para se olhar com esperança para a redenção futura a ser trazida pelo Messias”.[9]

O terceiro evento que também é visto como um tipo de Ceia é o episódio do maná no deserto que se encontra em Êxodo 16, onde Deus alimenta o seu povo que havia sido libertado das mãos do Egito.

Em seu comentário sobre Êxodo, R. Allan Cole destaca que “Esta provisão de alimento confirmara os propósitos divinos de salvação para Israel; aquela tarde demonstraria claramente que o êxodo não fora um mero acidente histórico.”[10]

Richard J. Shuta e Alex Bite, em um artigo na Revista “Boas Novas”, destacam o seguinte:

Durante a jornada de quarenta anos do povo hebreu pelo deserto, Deus lhes deu o maná do céu. Além de nutrir os seus corpos, Deus lhes deu esse alimento especial para confirmar a sua presença permanente e sustentadora entre eles.[11]

 

Assim como o maná no deserto foi o alimento para o povo hebreu e a confirmação de sua presença entre o povo, a Santa Ceia agora alimenta e fortalece a fé, além de ser a presença do próprio Deus em meio ao seu povo.

 

Continua...

Helvécio José Batista Júnior




[1] Texto baseado na seguinte obra: BATISTA JR, Helvécio José. A Participação na Santa Ceia: Enfoques Teológicos e Históricos como subsídio para o Cuidado Pastoral. ULBRA – Universidade Luterana do Brasil. Canoas, RS. 2012.
 
[2] SASSE. Hermann. Isto é o meu Corpo – A luta de Lutero em defesa da presença real de Cristo no Sacramento do Altar. Traduzido por Mário L. Rehfeldt. Ed. Concórdia, Porto Alegre, RS. 2003. p. 17.
 
[3] Cf. 1Coríntios 11. 27 – 29.
 
[4] Gênesis 14. 18 – 20. “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos”.
 
[5]AMBRÓSIO, Santo. Os sacramentos e os Mistérios: Iniciação Cristã nos Primórdios. Introdução e tradução do original latino por D. Paulo Evaristo Arns. Ed. Vozes, Petrópolis, 1981. p. 49 e 50.
 
[6] Êxodo 12. 1 – 28
 
[7] EDERSHEIM, Alfred. The Life and times of Jesus the Messiah. Vol II. WM. B. Eerdmans Publishing Company. Michigan – USA, 1959. p. 490 – 491.
 
[8] EDERSHEIM, Alfred. The Life and times of Jesus the Messiah. Vol II. WM. B. Eerdmans Publishing Company. Michigan – USA, 1959. p. 492. “And as in the Paschal Supper all Israel were gathered around the Paschal Lamb in commemoration of the past, in celebration of the present, in anticipation of the future, and in fellowship in the Lamb, so has He Church been ever since gathered together around its better fulfillment in the Kingdom of God” (Tradução do Autor)
 
[9] SCHALLER, B. Dicionário Internacional de Teologia. “Festa, Páscoa”. São Paulo, 1982. Vol II. p. 240.
 
[10] COLL, R. A. Êxodo – Introdução e Comentário. Ed. Vida Nova e Mundo Cristão. 1981. São Paulo, SP. p. 126.
 
[11] SHUTA, Richard J. BITE, Alex. Jesus sempre estará com você. In. BOAS NOVAS. Santa Ceia. Nº 6. Editor Executivo: Wallace Schulz. St. Louis, MO – USA. 1998. p. 12.

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